A atenção precoce à saúde mental de jovens em situação de vulnerabilidade pode prevenir desdobramentos trágicos. O caso de Gerson de Melo Machado evidencia que, quando um adolescente com histórico de transtornos psicológicos não tratados continua a acumular passagens à polícia e a demonstrar comportamentos de risco, a ausência de intervenções coordenadas pode culminar em fatalidades inesperadas, como a invasão da jaula de uma leoa em João Pessoa. Essa realidade reforça a necessidade de protocolos que integrem serviços de saúde, proteção social e justiça, garantindo que qualquer sinal de sofrimento psicológico seja rapidamente encaminhado para avaliação e tratamento.
Os fatores que culminam em situações de risco são múltiplos e interligados. A falta de apoio familiar, a pobreza extrema e o histórico de esquizofrenia materna criaram um ambiente propício para a intensificação de sintomas de Gerson, que, embora visível aos policiais, não recebeu a internação psiquiátrica solicitada. Além disso, a repetição de sonhos fantasiosos — como viajar “a pé” para a África e cuidar de leões — pode indicar um distanciamento da realidade que, sem suporte, aumenta a probabilidade de decisões precipitadas. A integração de profissionais de saúde mental nos postos policiais e o uso de triagem rápida podem identificar esses sinais, permitindo intervenções imediatas antes que a situação se agrave.
Intervenções eficazes exigem uma abordagem multidisciplinar. Psicólogos e psiquiatras devem ser mobilizados para avaliação diagnóstica e acompanhamento, enquanto assistentes sociais e conselheiros tutelares precisam garantir que o jovem tenha acesso a redes de apoio, seja na família de origem ou em instituições de acolhimento. Programas de mentoria e grupos de apoio entre pares têm mostrado reduzir o risco de reincidência criminal em adolescentes com transtornos mentais. No caso de Gerson, o contato constante com a conselheira tutelar foi um ponto de ancoragem que poderia ser potencializado por intervenções terapêuticas estruturadas e acompanhamento psiquiátrico regular.
Ainda assim, existem limites práticos que podem inviabilizar a implementação plena dessas estratégias. A escassez de recursos humanos em serviços de saúde mental, o estigma associado à doença mental e a burocracia nos processos de encaminhamento entre setores dificultam a resposta rápida. Além disso, a política pública ainda não estabelece diretrizes claras sobre a atuação da polícia em situações de saúde mental, o que pode levar a decisões de confinamento em vez de tratamento. Para superar esses obstáculos, é crucial que governos locais invistam em formação continuada de policiais, criem centros de atenção psicossocial integrados e assegurem financiamento adequado a programas de reabilitação e inclusão social. Assim, a prevenção de tragédias como a de Gerson se torna não apenas uma possibilidade, mas uma expectativa real de melhoria na saúde e bem‑estar de nossos jovens.
