Aos 92 anos e em vigília por 60, o sobrevivente de um caso raro da ‘doença do sono’ é uma inspiração a quem quiser enfrentar os desafios da vida. Em um estado de imobilidade absoluta por mais de quatro décadas, ele não apenas se recuperou, como também descobriu uma nova paixão pela arte e pelo ensino. Hoje, ele pintura aquarelas na cama e compartilha seu conhecimento sobre o Holocausto com os netos.

Imagine estar paralisado por quase seis décadas, incapaz de expressar seus sentimentos ou interagir com o mundo ao seu redor. Foi exatamente o que aconteceu com centenas de milhares de pessoas durante a epidemia de encefalite letárgica, uma doença que varreu o mundo entre as décadas de 1910 e 1920. Mais de um milhão de pessoas foram afetadas, quando o mundo estava sendo devastado pela Primeira Guerra Mundial e pela gripe espanhola. Se um terço dos doentes morreu na fase aguda, os sobreviventes, muitas vezes, desenvolveram distúrbios motores crônicos, como o parkinsonismo pós-encefalítico. Para entender melhor como essa epidemia devastou a humanidade, não basta olhar para as estatísticas, é preciso olhar para as histórias individuais.

O caso do sobrevivente de 92 anos que venceu a ‘doença do sono’ é uma dessas histórias incríveis de superação. Ele permaneceu em uma coma-catatônica por aproximadamente 60 anos, até 1969, quando a revolucionária droga levodopa permitiu que ele começasse a se recuperar. Hoje, ele é um pintor e professor, que compartilha sua experiência com os filhos e netos. A reorganização neural que ele sofreu durante seu longo tempo em um estado de imobilidade é objeto de fascínio entre os neurologistas, que estão tentando entender como os mecanismos cerebrais mudam ao longo da vida. A capacidade de seu cérebro de aprender e se adaptar não acabou com os anos, mas sim começou à medida que ele se conectou novamente com o mundo.

A doença foi descrita formalmente em 1917 pelo neurologista austríaco Constantin von Economo e os pacientes apresentam febre alta, faringite e sonolência extrema, que se progridem até um estado de imobilidade quase absoluta, com a preservação da consciência. Embora os relatórios de tratamentos experimentados na época mostrem pouca eficácia, o fato mais assustador é como os casos de encefalite letárgica foram registrados em diferentes países no período pós-Promulgada da epidemia, como o Matheson Report, de 1929. Nesse documento, dezenas de milhares de casos de pacientes da doença foram compilados e o número de vítimas ainda continua sem ter um número exato, o que aumenta, ainda mais, a sensação de desespero daquela época.

Quando você olha para os sobreviventes e os vencedores dessas epidemias raras, é possível enxergar a capacidade dos humanos de resistir e se adaptar, mesmo nas condições mais desafiadoras. E é isso que nos leva a sonhar com possibilidades que, sem o suporte humano, nunca existiriam.

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