Na noite desta quarta-feira, 26 de novembro, Roberta Miranda subiu ao Instagram com um vídeo de três minutos que rapidamente se espalhou entre grupos de WhatsApp de jornalistas, produtores e músicos sertanejos. A gravação, feita no camarim do Teatro Paulo Autran, em Osasco, onde a cantora ensaia para a turneira de inverno de 2026, foi publicada pouco depois que trechos de uma entrevista sua ao canal Meu Sertanejo viralizaram e passaram a ser lidos como uma indireta a Chitãozinho e Xororó. No pronunciamento, ela rebateu a leitura de que haveria uma rusga com a dupla e reiterou que sua única ressalva continua sendo com a Academia Latina de Gravação, responsável pelo Grammy Latino. O episódio reacendeu o debate sobre originalidade de conceito em projetos audiovisuais do gênero e sobre o peso político dos votantes da premiação.
O ponto de partida da polêmica remonta a 2019, quando Roberta Miranda lançou o DVD Raízes ao Vivo, gravado em estúdio com palco montado em forma de estrada de terra, violões vintage, tela LED que simulava o céu de Mato Grosso e roteiro que intercalava faixas inéditas com clássicos reharmonizados. O projeto vendou 120 mil cópias físicas e rendeu à artista uma indicação ao Grammy Latino de 2020, perdendo para Apegados de Roberto Carlos. Dois anos depois, Chitãozinho e Xororó lançaram José e Durval, álbum que também adotou o cenário de estrada de chão batido, violões centenários e projeção de céu estrelado, além de incluir releituras de sucessos dos anos 1980. A semelhança visual foi notada por fãs e pela crítica, mas nenhuma representação formal chegou a ser protocolada. Em entrevista publicada na última segunda, Roberta lembrou que, meses antes do lançamento da dupla, encontrou-se com Chitãozinho em uma sala de espera médica no Rio de Janeiro, ocasião em que ele teria dito que “sempre acompanha seus DVDs em busca de referências”.
Roberta integrou o corpo de votantes do Grammy Latino entre 2018 e 2023, período em que participou de comitês de screening de oito categorias, incluindo a de Melhor Álbum de Música Sertaneja. Segundo dados da própria Academia, apenas 18% dos membros brasileiros efetivamente enviam seus boletins de voto a cada ciclo, o que já foi apontado por estudos internos como um dos fatores que reduzem a competitividade de certos registros locais. A cantora afirma ter votado em todos os anos, mas viu Raízes ao Vivo não ser sequer pré-selecionado em 2021, enquanto José e Durval levou o prêmio em 2023. O disco vencedor somou, até agora, 92 milhões de streams no Spotify e 38 mil unidades físicas vendidas no Brasil, números inferiores aos de Raízes, que já ultrapassa 110 milhões de streams. A diferença de performance comercial, no entanto, não se reflete na decisão final, o que alimenta a percepção de que o critério de “impacto cultural” pesa menos que o lobby de gravadoras. Roberta reforça que não questiona o mérito da dupla — “são ícones, sempre os admirei”, declara —, mas o sistema de indicação que, segundo ela, “premia mais o networking do que a narrativa artística”.
Fora das urnas, a cantora mantém agenda de 22 shows marcados para o primeiro semestre de 2026, com produção musical de Rafael Castilhol e direção geral de Guto Campos, mesmo time de Raízes. A turnê europeia que chegaria a Portugal, França e Alemanha em abril foi cancelada em outubro por falta de patrocínio; o investimento estimado era de 1,2 milhão de reais e só 30% havia sido viabilizado via Lei de Incentivo. Enquanto isso, Chitãozinho e Xororó preparam nova rodada de José e Durval em arenas, com data já confirmada no Vibra São Paulo para junho. Roberta diz que pretende assistir: “Quero ver de perto o que eles fizeram com a ideia, sem mágoa nenhuma”.
