O filme “Mãos à Obra”, dirigido por Valérie Donzelli, é uma adaptação do livro “À pied d’œuvre”, de Franck Courtès, que apresenta uma crítica à uberização do trabalho no mundo contemporâneo. A história segue Paul, interpretado por Bastien Bouillon, um fotógrafo que decide deixar sua carreira para se tornar escritor, mas logo percebe que não consegue viver da sua arte e se torna pobre. Em busca de uma solução, ele começa a oferecer pequenos serviços em um aplicativo que conecta contratante e contratado sem contrato fixo, o que o leva a refletir sobre a precariedade do trabalho e a exploração dos trabalhadores. O filme já recebeu críticas internacionais positivas durante o Festival de Veneza e agora está em cartaz no Brasil pelo Festival de Cinema Francês.
A direção de Valérie Donzelli traz uma atenção especial para os desdobramentos da precariedade do trabalho, ao mesmo tempo em que apresenta uma adaptação bonita do livro. O elenco, liderado por Bastien Bouillon, traz profundidade e complexidade às personagens, enquanto a fotografia captura a essência da cidade de Paris e sua relação com os personagens. O roteiro, por sua vez, explora temas como a liberdade artística, a exploração dos trabalhadores e a precariedade do trabalho, criando um drama com profundidade subjetiva e cenas de tirar o fôlego. A partir da história de Paul, o filme também aborda a questão da criatividade e como ela é afetada pela pressão do mercado e pela necessidade de sobreviver.
Valérie Donzelli, em entrevista, destacou a importância de adaptar o livro para o cinema, ressaltando a necessidade de transmitir a complexidade de ser artista e a dificuldade de criar. Ela também falou sobre a uberização das profissões e como isso afeta não apenas os trabalhadores, mas também aqueles que se consideram bem-sucedidos, que podem ser escravos bem pagos, sempre disponíveis e invadidos pelo trabalho. O filme, portanto, não se limita a contar a história de Paul, mas também reflete sobre a sociedade contemporânea e as consequências da globalização e da tecnologia no mundo do trabalho.
A partir da história de “Mãos à Obra”, é possível refletir sobre a realidade do trabalho no mundo atual e como a tecnologia pode ser uma ferramenta de exploração, ao invés de libertação. O filme apresenta uma visão crítica sobre a sociedade contemporânea, sem oferecer respostas fáceis ou soluções simplistas, mas sim convidando o espectador a refletir sobre a sua própria relação com o trabalho e a criatividade. Com sua atenção ao detalhe e sua profundidade subjetiva, “Mãos à Obra” é um filme que permanecerá na mente do espectador longamente após o crédito final.
