O prefeito do Recife, João Campos, apresentou um projeto que visa privatizar a Avenida Guararapes e áreas do entorno da cidade, integrando o chamado Distrito Guararapes, que prevê investimentos de aproximadamente R$ 300 milhões para requalificar trechos da cidade. A proposta tem como objetivo revitalizar o centro do Recife, estimular atividades econômicas e ampliar a presença de moradores na região. Para viabilizar a execução, o poder público prevê aportes diretos e transferência de propriedades no centro histórico, com uma estimativa de R$ 76 milhões em aportes do poder público, divididos entre aporte imobiliário e aporte pecuniário, além de R$ 234 milhões em contraprestação pública ao longo dos 30 anos da PPP.

Desde o anunciado do projeto, a proposta tem recebido críticas de parlamentares da Câmara do Recife. A vereadora Liana Cirne, do PT, argumenta que o projeto pode resultar em gentrificação e exclusão, ao transformar áreas históricas em “um produto comercial padronizado”. Além disso, ela afirma que o plano não enfrenta o déficit habitacional do centro, pois prevê moradias com valores acima da média da cidade, destinadas a famílias com renda entre R$ 4,7 mil e R$ 12 mil. A parlamentar também criticou a reformulação de áreas simbólicas, como a Praça do Diário e a Avenida Dan, afirmando que o desenho atual do projeto não garante a permanência de ambulantes e desconsidera o papel histórico do comércio popular.

Os principais pontos da proposta incluem intervenções urbanísticas, obras de requalificação e a gestão privada de estruturas como quiosques e espaços comerciais. No entanto, a vereadora Liana Cirne afirma que o plano entrega à iniciativa privada a gestão cotidiana de áreas públicas, inclusive de quiosques, imóveis e publicidade, enquanto o poder público assume os maiores riscos, custos e desapropriações. Além disso, a proposta prevê a transferência de propriedades no centro histórico, o que pode levantar suspeitas de que o poder público está cedendo à pressão de interesses privados. Como consequência, a gestão pública pode perder o controle sobre as áreas públicas e as decisões de investimento, tornando-se dependente dos interesses da iniciativa privada.

A proposta de João Campos também levanta questões sobre a gestão do patrimônio histórico do Recife. A Avenida Guararapes é uma área de grande valor patrimonial e cultural, e a privatização pode levar à perda de controle sobre a sua preservação e conservação. Além disso, a proposta não garante a integração dos moradores locais na gestão das áreas públicas, o que pode contribuir para a exclusão desses grupos da vida pública da cidade. Em resumo, a proposta de João Campos é ambiciosa em termos de investimento e requalificação, mas também levanta preocupações sobre a gestão do patrimônio histórico, a exclusão social e a dependência do poder público em relação à iniciativa privada.

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