Com pequenas mudanças na receita, truques de classificação e brechas legais que viram ouro, empresas transformam bombom em wafer, sorvete em bebida láctea e escancaram o caos tributário que custa trilhões ao Brasil.
Quem nunca se deu conta de como uma pequena mudança pode mudar completamente o jogo? No mundo do comércio e da economia, é bem comum ver empresas manipulando as regras para escapar dos impostos. Com uma simples alteração na receita, na embalagem ou na classificação fiscal, essas empresas conseguem transformar bombom em wafer, sorvete em bebida láctea e, consequentemente, reduzirem significativamente os impostos pagos. É incrível como pequenas alterações na contabilidade podem gerar mudanças tão drásticas. O caso do Sonho de Valsa, por exemplo, é um estudo de caso interessante. A empresa reformulou o clássico bombom e o transformou em um wafer embalado em flow pack, com uma “cobertura sabor chocolate” em vez da chocolate ao leite tradicional. Por trás daquela pequena mudança está um mundo de diferenças na tributação. Como resultado, a empresa conseguiu aproveitar uma “brecha” no sistema fiscal e pagar menos impostos.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso entender o contexto maior. O Brasil arrecadou mais de R$ 1,29 trilhão em impostos ligados ao ato de consumir, em 2021, e essa cifra já foi ultrapassada. Além disso, as cargas de impostos continuam a crescer a cada ano. E é justamente nesse cenário que as empresas precisam lidar com um sistema tributário complexo e cheio de brechas. Segundo uma pesquisa do Banco Mundial, uma empresa brasileira passa entre 1.483 e 1.501 horas por ano apenas para preparar e pagar impostos. É tempo que poderia ser usado em inovações, aumento de eficiência ou crição de novos produtos. Infelizmente, a burocracia fiscal está consumindo esse tempo valioso.
Muitas vezes, os produtos chegam a ter até 80% do preço formado apenas por impostos. É o caso da gasolina, que carrega cerca de 56,09% em impostos. Esse ciclo vicioso é difícil de quebrar. A carga fiscal do país é grande e, ao mesmo tempo, a burocracia é excessivamente complexa. A falta de transparência nos impostos faz com que os consumidores sejam os primeiros a serem afetados, e as empresas, as últimas. Enquanto isso, o sistema tributário continua a ser uma verdadeira “porta de entrada” para que as companhias explorem as brechas e usem os truques para reduzir os impostos. É um cenário caótico que parece cada vez mais difícil de resolver.
